terça-feira, 26 de maio de 2009

Qualidade de vida e estresse saudável no trabalho

Por Freddy Poetscher, engenheiro e consultor em performance da Testmat.

Estresse foi durante muito tempo uma palavra associada a baixo desempenho profissional e problemas no trabalho. Não é mais. Existe o estresse positivo, fundamental para bons resultados profissionais e até pessoais, bem diferente do estresse tóxico, que revela estruturas de trabalho doentes, aumenta o número de faltas e reduz a produtividade. O estresse positivo e a ansiedade moderada que ele produz garantem uma performance mais apropriada ao funcionamento das organizações.

A definição de metas e prazos que estejam de acordo com a capacidade e disponibilidade de cada empregado é importante para a manutenção do estresse positivo. É exatamente esse nível de exigência adequado que determina um bom rendimento. Abaixo da linha do estresse positivo, o rendimento diminui bastante. Na via oposta, prazos irreais e demandas excessivas compõem um cenário desajustado, que favorece a manifestação dos sinais negativos do estresse.

Em um ambiente contaminado pelo círculo negativo do estresse, até as novidades tecnológicas deixam de cumprir a função para a qual foram criadas. No lugar de servirem como ferramenta para melhorar a produtividade, acabam por exigir um desempenho cada vez maior de um trabalhador pouco motivado para as mudanças. Por conta disso, surge uma contra-cultura que, em busca de um modelo de vida mais saudável, procura combater o ritmo excessivamente veloz imposto pela tecnologia.

Não se trata apenas de uma tendência, mas de uma realidade que vem se incorporando aos sistemas de gestão. Alguns avanços foram observados nos últimos anos. A década de 90 ficou marcada pela introdução do ISO 14.000, que estabelece diretrizes para a produção sem prejuízos ao meio-ambiente e à comunidade. Na virada do milênio, outras duas certificações (OHSAS18001 e SA8000) pregam um modelo trabalhista que não prejudique a saúde física do colaborador. Apesar de constituírem uma evolução, tais medidas ainda são insuficientes.

A gestão das organizações normalmente relega a um segundo plano a necessidade de um ambiente saudável, classificando o mal-estar como um problema exclusivo do colaborador. No entanto, empresas mais esclarecidas já corrigem esse viés, pois sabem que a performance do funcionário afeta diretamente os resultados corporativos e a competência dos colaboradores passa a ser reconhecida como o ativo principal da empresa. Mas a somatória dessa competência só é possível quando são consideradas as seis dimensões de um ambiente de trabalho saudável: Controle, Apoio, Relacionamento, Papéis, Exigência e Mudança.

Controle
O trabalho do indivíduo é interessante? Entediante? Repetitivo? Instrutivo? Difícil? Requer iniciativa?
Quem decide sobre o que e como fazer o trabalho?
Quem decide o dia-a-dia: horários, intervalos, equipe, ambiente físico?

Apoio
O indivíduo recebe incentivo e ajuda dos colegas e superiores?
A equipe está disponível para ouvir problemas de trabalho?

Relacionamento
As informações dos superiores são claras e coerentes?
Existe política da empresa contra comportamentos inaceitáveis (assédio, ameaça, conduta imoral)?
Como está organizado o gerenciamento dos conflitos interpessoais?

Papéis
As responsabilidades estão determinadas claramente?
Existe o alinhamento do trabalho do indivíduo com os objetivos da empresa?
O trabalho do indivíduo é planejado e executado conforme os objetivos e capacidades do mesmo?

Exigências
Qual ritmo de trabalho?
Há tempo para fazer tudo?
As tarefas são claras e coerentes?

Mudança
A empresa comunica aos seus colaboradores antecipadamente sobre as alterações estruturais planejadas?
A empresa consulta os empregados sobre mudanças que pretende fazer?

O planejamento eficaz destas dimensões assegura um ambiente saudável, com impacto significativo na motivação das equipes, no cumprimento de metas e nos resultados da organização. E, ao contrário, a ausência destas preocupações eleva o estresse negativo, favorece o aparecimento das doenças decorrentes (obesidade, diabetes, hipertensão, infarto e AVC) e estimula o consumo de substâncias como álcool, drogas e tranqüilizantes. Além de reduzir a qualidade de vida e corroer o ambiente saudável, essas conseqüências aumentam consideravelmente o grau de sinistralidade dos seguros de saúde.

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