quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Por que a Revolução Educacional Coreana fez toda a Diferença?

Há um país na Ásia que não é grande e populoso como a China ou a Índia, mas cujo êxito econômico merece ser analisado com mais atenção por países em busca de um modelo que lhes assegure o tão sonhado crescimento sustentado.

Trata-se da República da Coréia, ou Coréia do Sul, que nasce em 1945, após décadas de ocupação e exploração pelo Império do Japão.

Sua economia tem crescido rapidamente desde a década de 1950. Hoje em dia, é a 13ª maior economia do mundo e está classificado como um dos países mais desenvolvidos do mundo pela Nações Unidas, pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Também se encontra entre os países mais avançados tecnologicamente e um dos melhores em comunicações; é o terceiro país com o maior número de usuários de Internet de banda larga entre os países-membros da OCDE, sendo também um dos líderes globais na produção de aparelhos eletrônicos, como dispositivos semicondutores e telefones celulares. Também conta com uma das infraestruturas mais avançadas do mundo, e é o líder da indústria de construção naval, encabeçada por companhias proeminentes como a Hyundai Heavy Industries.

O primeiro passo foi à implantação da reforma agrária, que na mesma época estava sendo feita no Japão por imposição da ocupação militar norte-americana. A distribuição da terra, em ambos os países, acaba com o poder da aristocracia feudal latifundiária, lançando as bases de um mercado interno forte. A seguir, vem à etapa mais importante: a revolução educacional, favorecida pelo lugar de destaque que o estudo tem nas religiões e filosofias predominantes no norte da Ásia, como o budismo, o confucionismo e o taoísmo.

A educação pública foi universalizada e os jovens em idade escolar permanecem estudando durante 12 ou mais anos, em período integral, sendo vedado o trabalho de qualquer tipo aos menores de idade. Como complemento, um serviço militar compulsório de três anos possibilita aos homens ingressar nas universidades mais maduras e aptas a tomar decisões.

A estrutura universitária da Coréia do Sul, pautada pela disciplina e por rígidos padrões de cobrança, acabou por viabilizar, no curto espaço de uma geração, a formação de uma população educada e preparada para desfrutar dos benefícios da tecnologia. A busca permanente do conhecimento levou um grande número de estudantes coreanos a continuar os estudos técnicos e de especialização nas melhores universidades dos EUA e Europa.

Finalmente, o sistema de estruturação empresarial primou pela cópia do modelo japonês, baseado em grandes conglomerados, que lidam com todos os aspectos de um empreendimento, tais como financiamento, produção e distribuição. A Hyundai, a exemplo da japonesa Mitsubishi, é uma estrutura econômica verticalizada, que compreende desde banco até uma trading, passando pela indústria, que não é só automobilística, mas abrange estaleiros e siderúrgicas.

A Coréia especializou-se, nas décadas de 60 e 70, na produção de bens de capital e passou a exportar, ao mesmo tempo, para os diferentes pontos do planeta, sem qualquer diferenciação ideológica, produtos como aço, navios, veículos novos e usados, além de serviços: construiu portos na região dos Emirados Árabes e estradas na Mongólia. Por sofrer de uma escassez crônica de matérias-primas e alimentos, a República da Coréia precisa exportar 50% de tudo o que produz, de forma a acumular as divisas necessárias para fazer frente às necessidades de importação, vitais para alimentar a população.

Também é importante destacar o elevado padrão de vida decorrente de um bom nível salarial dos trabalhadores e da preocupação de distribuir terras, fatores que acabaram por mitigar as desigualdades.

A educação selou um pacto do povo coreano com a democracia e o futuro, além de contribuir para o aumento da mobilidade social, por meio da expansão da classe média.

No confronto com a cultura estrangeira importada, houve uma redescoberta dos valores tradicionais, proporcionando uma nova síntese da cultura nacional. Em 1970, apenas pouco mais de 200 mil alunos cursavam o ensino superior na Coréia do Sul, o equivalente a 0,62% de uma população de 30 milhões de habitantes. Em 2003, de uma população de 48 milhões de pessoas, mais de 3,5 milhões ou 7,4% cursavam alguma faculdade no país. Também no ano passado 162 mil estudantes sul-coreanos faziam graduação tecnológica, mestrado e doutorado nos Estados Unidos, no Japão e na Inglaterra.

Os melhores alunos do mundo, não são superdotados. Eles estão nas melhores escolas do país, que tem o melhor ensino básico do planeta.
Por fora, a escola não tem nada de mais: 1,3 mil alunos, 35 por classe.

Veja o que faz diferença:

A senhora Park tem mestrado em Educação, como a maioria dos professores lá. O karaokê é só um dos recursos educativos. Na sala de aula, tudo o que é preciso para educar com motivação.

São oito horas por dia na escola. Estressante? Não, é divertido, dizem eles.

Todos têm notas acima de oito. O segredo é nunca permitir que o aluno passe um dia sem entender a lição, diz a professora, que ganha o equivalente a R$ 10,5 mil por mês.

É a média na Coréia, onde os professores precisam ter curso superior e são atualizados e avaliados a cada dois anos. Se o aluno não aprende, o professor é reprovado.

A virada começou com uma lei que tornou o ensino básico prioridade. Os recursos foram concentrados nos primeiros oito anos de estudo, tornados obrigatórios e gratuitos, como são até hoje. O ensino médio tem 50% de escolas privadas e as faculdades são todas pagas, mesmo as públicas. Bons alunos têm bolsa de estudos e o governo incentiva pesquisas estratégicas.

O fato é que logo depois da reforma da Educação, a economia da Coréia começou a crescer rápido, em média 9% ao ano durante mais de três décadas. E hoje, graças à multidão de cientistas que o país forma todos os anos, a Coréia está pronta para entrar no primeiro mundo, tendo como cartão de visitas uma incrível capacidade de inovação tecnológica. Desde a área de computação até na genética.

“Foi à paixão pela Educação que fez a Coréia crescer”, concorda o pai de quatro, que como a média dos coreanos gasta 20% da renda familiar em cursos extracurriculares para reforçar o ensino.

Nessa jornada de estudos diários, tem o estudo de línguas que inclui também o japonês e o alemão. São pelo menos sete idiomas ofertados. Programar computadores e entender história também faz parte. Tem as diversões da vida no colegial mas não é brincadeira. É a corrida para entrar nas melhores universidades do país.

A pressão é muito grande, principalmente para os meninos. “A Coréia quer homens perfeitos, esse é o problema”.

Os pais concordam. Acham que o ensino é competitivo demais, voltado à formação de profissionais de alto nível, deixando o ser humano de lado.

No Ministério da Educação e Recursos Humanos, o diretor explica: “Os coreanos não querem ser perdedores. Por isso a educação é voltada para a economia”.

De novo na terceira série, onde as crianças de 10 anos simulam entrevistas de emprego e as paredes tem slogans: “Economia forte significa um país forte” e também: “Economize um centavo, orgulhe seu país”.

As crianças acham natural. Puxam seus celulares “Made in Coréia” para fotografar os visitantes.

Quando os presidentes de Brasil, México e Argentina participaram da reunião das maiores economias mundiais no G-20 em Seul, eles deveriam ter reservado algum tempo para dar uma espiada no país sede do encontro. Poderiam ter aprendido por que a Coréia do Sul se saiu melhor que seus países.

O que a Coréia do Sul faz tão melhor que os países latino-americanos?

Há diversas explicações, incluindo o fato de que o país asiático não mudou constantemente suas políticas econômicas, aferrou-se a uma estratégia de desenvolvimento movido pelas exportações, e há muito pratica uma espécie de capitalismo gerido pelo Estado ao qual alguns economistas creditam o surgimento de suas multinacionais gigantes, como Hyundai, Daewoo e Samsung. Virtualmente, todos concordam que uma das principais razões por trás do sucesso foi sua obsessão com educação.

A Coréia do Sul decolou nos anos 60, quando EUA e Europa reduziram drasticamente sua ajuda econômica ao país, e a economia sul-coreana despencou. A Coréia do Sul decidiu que precisava de uma força de trabalho bem formada para aumentar a receita das exportações.

Assim, investimentos pesados foram feitos em educação, ciência, tecnologia e inovação. Não se tratou apenas de gastos do governo: o governo sul-coreano gasta menos que México, Brasil, Argentina em educação.

A Coréia do Sul desenvolveu uma meritocracia educacional com padrões de excelência ultra rigorosos. Apenas um exemplo: o ano escolar na Coréia do Sul tem 220 dias. Por comparação, os anos escolares oficiais do México e do Brasil têm 200 dias, e o da Argentina, 180 dias.

Os dias escolares na Coréia do Sul também são muito mais longos que nos países latino-americanos. Os jovens sul-coreanos com frequência estudam 12 ou 13 horas por dia.

Segundo vários estudos, as famílias de classe média sul-coreanas gastam cerca de 30% de sua renda com professores particulares para seus filhos. Chung-in Moon, um professor da Universidade Yonsei e ex-diplomata sul-coreano contou que na Coréia "os pais não pensam duas vezes antes de gastar todo seu dinheiro na educação dos filhos. As pessoas vendem suas vacas, suas casas, o que tiverem para enviar os filhos à universidade".

Para se tornar professor secundário na Coréia do Sul, os alunos precisam estar nos 5% superiores em suas classes de graduação colegial. Por comparação, milhares de professores no México ainda obtêm seus empregos comprando seus postos pelo equivalente a US$ 10 mil, independentemente de suas credenciais acadêmicas. Não é de surpreender que a Coréia do Sul tenha se tornado um dos países com melhor desempenho em testes internacionais de matemática e ciências, e um dos mais prolíficos inventores de novos produtos.

Enquanto a Coréia registrou cerca de 9.600 patentes em 2009, o Brasil registrou 150, o México 80, e a Argentina 40.

Há aspectos negativos na obsessão sul-coreana com a educação, entre os quais as taxas relativamente altas de suicídio de adolescentes, mas a impressionante ascensão da Coréia do Sul da condição de país assolado pela pobreza sugere que os sul-coreanos estão fazendo algumas coisas certas.

O salto sul-coreano de um país agrário para líder em pesquisa e tecnologia atende pelo nome educação.

O foco veio da necessidade das indústrias na formação de recursos humanos e na valorização do professor. Em 20 anos, o salário saltou de US$ 200 (R$ 319,00) para US$ 5 mil (R$ 7.975,00) ao mês. O cearense Soleiman Dias trabalha há 11 anos como professor em Seul e destaca que há, neste momento, uma nova transformação:

- Hoje, o foco é formar um aluno mais criativo.

O ensino fundamental tem nove anos. Nos seis primeiros, é obrigatório. Para universalizar a educação de qualidade, os conteúdos chegam a todos os cantos do país por uma rede de TV.

A avaliação de professores é uma realidade nas escolas coreanas.
São turmas pequenas, de no máximo 35 alunos, constantemente subdivididas para aulas de diferentes disciplinas. Uma das fixações, o ensino da língua inglesa, ocupa sete horas semanais e é feito em turmas com 10 alunos. São 16 professores de países onde o inglês é a língua principal.

Estudar é uma disputa. Um dos pontos da cultura do país é ser o primeiro e estar sempre entre os melhores. Além do inglês, os estudantes tem duas horas de Educação Musical por semana. As salas são equipadas com pianos.

A competição, saudada por alguns, é vista por outros como pressão sobre as crianças. ]

As escolas garantem que o ensino se baseia em fazer com que os alunos tenham suas próprias opiniões e as expressem. Uma das metas é formar líderes. Esta é também a filosofia que impulsionou o país...

A educação, como se pode ver, sempre vai fazer toda a diferença.

Fontes: Valor Econômico, Uniemp e Educarparacrescer.

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